Olhar do ARTISTA percepção e arte

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

FRAGMENTOS EM SETE PARAGRAFOS

 Ao entrar nesta sala, o forte cheiro da tinta. A modernidade da cor ressalta a transparência  da porta, iluminada pelo sol. Em mãos o pincel, em tela uma vida que ficou.
 A cortina movia-se conforme a brisa pela janela , com ela, fleche de luzes incandescentes. Sobre a mesa nua,  o pequeno lampião  ao lado da fruteira vazia.  Lembranças de uma bela viagem.
O suor no corpo anuncia o verão. O pequeno povoado a beira mar.  Ao cair do sol a lua surgia como grande anfitriã, no espetáculo das estrelas ao céu. Observar os corpos, naquele magnífico cenário,  levava à busca do lápis e papel. Desenhar misteriosas formas era como decifrar as faces.
 Cada detalhe rabiscado eram pontos deslocando-se no espaço. Os movimentos dos corpos , musica, dança e poesia.  Formas de expressões surgiam como fotografias. Mas, lá estava à escuridão. A busca por um ponto perdido.  Deixando escorrer entre os dedos, sentimentos e emoções.

 Por: Marta Pinheiro

CONFISSÃO:



 O Véu
   Suavemente, a grinalda estendia-se, sob sua cabeça, até o horizonte. No rosto angelical, sonhos dos amores, que vinham, logo partiam. O olhar fixo, a imagem exposta no altar. Repetidos cânticos ressonavam aos ouvidos. Devotas de Santo Antônio oravam por promessas – talvez cumpridas. No emaranhado do véu, a silhueta daquele com quem tanto sonhou – Pediu.  Mas, entre sonhos e solidão, não escolheu, apenas aceitou.

Por: Marta Pinheiro

Cenário da vida.



Cenário da vida

Quando criança aprendeu a ler tudo, detalhadamente. Em memória leituras inesquecíveis. Uma das mais marcantes, o caminho até a escola.
Cercado, pela beleza do verde tornava ainda mais belo o chegar da primavera. O colorido das flores dava um toque especial ao cenário. O sugar do beija-flor, o voo suave das diversas borboletas harmonizavam a rara paisagem.
Ainda lembro as mudanças de estações do ano. Sabia quando elas ocorriam, observava o comportamento, dos participantes, daquele cenário. A presença inesperada das libélulas, suas patinhas unidas, elevadas para o céu, como se reverenciando a Deus, informavam chuva.
As folhas secas, espalhadas pelo caminho. Trazia o outono. As nuvens de tanajuras vinham confirmar, o evento. Eu e meu irmão corríamos feitos cabritos, saltitantes.
O orvalho da noite deixava a manhã, mais bela. A umidade do ar, as inúmeras gotículas de água, na vegetação, brilhava com a luz do sol. A magia de um arco-íris resplandecia aquele caminho.
Ao final do percurso - estava à escola. O enorme portão - bem maior após fechado. Lá, me se sentia só - tudo era sombrio. Na parede, o enorme quadro negro. As carteiras, onde sentávamos. Eram de madeira de lei, fazendo lembrar bancos de igreja. Mesas acompanhavam os assentos, todas tinham um buraco no centro - para que serviria aquele buraco? Pensava intrigada.
Sentavam dois, três em cada carteira. Sempre procurava ficar só – impossível. Mas, complicado era, quando o meu lado esquerdo, se manifestava. Tive o punho amarrado por um cordão. Fazendo lembrar o uso da direita.
Como solução, desenhava: olho; boca; nariz nas pontas dos dedos. Passei a utilizar o buraquinho, do centro da mesa. Manipulando meus dedinhos pela parte inferior do buraco - Carinhas pintadas entravam em cena.
Por: Marta Pinheiro em 2010

AMOR l:


Sintonia do amor

A sensibilidade do olhar além dos signos imposto, fluindo essências e aromas que afloram a sintonia deste amor.  

Amantes corpos, em seus poros eclodem, centelhas de amor que explodem. 

Paixões! Como rastro de pólvora implode... 
Por: Marta Pinheiro

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

INFÂNCIA:



O PERFUME DA ARTESÃ
                    
                O tecido era de cambraia, tão alvo, quanto à pele da criança, que curiosamente sentava-se ao lado da mulher que bordava. A leveza da linha de seda confundia-se, com a suavidade, do toque da pele delicada, daquelas mãos. A satisfação estava explícita, a cada olhar, em cada movimento. As variedades das cores das linhas, usadas para tecer, tornavam-se harmoniosas. A cada ponto feito no tecido, uma idéia. A cada idéia, um olhar, em cada olhar, um pensamento, em cada pensamento, um sonho, a cada sonho, um suspiro.
         A curiosidade da criança misturava-se entre bordados, e o perfume que se esvaia, entre movimentos e sonhos. Por vezes, ela desprendia-se das linhas e tecidos para acariciar, o rosto delicado do menino, que expressivamente, diante de tanta magia, vislumbrava-se, com os resultados manuais da artesã.                    
            Em meio àquele cenário harmonioso, o rádio se fazia presente. A cada ponto bordado, um nó atado ou desatado, a cada pétala moldada, ouvia-se o som do radio. A música, a trama e os dramas, embalavam sentimentos que, por vezes, faziam as emoções florirem a face daquela misteriosa mulher.
            O sorriso da artesã esplandecia sua face rosada, acentuando o vermelho dos lábios. O perfume se esvaia no ar.  Os grandes olhos negros destacavam-se com espessas sobrancelhas, fazendo lembrar grandes atrizes do cinema. O corte curto nos cabelos era uma forma de expressar a liberdade que a envolvia.
                 O cinema sempre fascinara aos dois. Os filmes e grandes nomes artísticos eram acompanhados por eles em telas; fotografias; reportagens e revistas. A artesã ensinava ao menino, todo esplendor cinematográfico, como também, histórias de astros e estrelas da época. O menino sonhava e sonhava... Para ele, as grandes estrelas, teriam o mesmo perfume da artesã. Ela tecia e tecia... A cada ponto um sonho. A cada sonho uma vida. A cada vida uma flor, em cada flor, a essência do perfume de um artista. Por: Marta Pinheiro

INFÂNCIA l :



A CERCA

Do outro lado da cerca, podíamos ver a esguia arvore movendo seus galhos em uma dança clássica ao soprar do vento. O vermelho cintilante das pequeninas amoras iluminava aquele espaço. Ali, em meio ao verde, das robustas arvores, uma vez por ano, lambuzávamos as bocas com o sumo daquela deliciosa fruta.



VIAJAR


 Viajo sentindo a vida nessa infinita visão. Ainda se não possível viajaria entre sonhos e emoções. Nesta viagem no tempo reproduzo sentimentos. Seguindo o ciclo da vida desnudo meu corpo ao vento.
Por: Marta Pinheiro

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

LUCIDEZ:


 O ESPELHO
           

Na aparência mais de trinta, vendedora de uma loja em bairro nobre. Homens e mulheres desfilam pelos corredores. Todo dia o ritual: Lojas; vitrines; luzes e comerciais.

 Encerra o expediente. Corre o filho à espera enfrente a TV. Tira o salto, em seguida a mascara. Ela, detergente para os pratos, sabão para as roupas, sabonete para o corpo, creme para as mãos, tinta no cabelo, esmalte nas unhas, maquiagem ao rosto - O patrão pede.

 O dia amanhece: café; biscoito; manteiga; leite; queijo. Olha o relógio - o tempo passa por cima e não perdoa. Um corpo reflete ao espelho. No rosto cansaço, nas mãos o perfume - cambaleia. Em momento de lucidez - ergue-se. Quebra o espelho. 


Por: Marta Pinheiro